Review: Best Served Cold

Best Served Cold é um jogo narrativo que mistura mistério, investigação e coquetelaria num bar clandestino ambientado em uma Europa alternativa dos anos 1920. Desenvolvido pela Rogueside, o título aposta em uma atmosfera noir e um elenco variado de personagens para contar uma história dividida em cinco casos interligados. Com mecânicas de visual novel e uma pitada de simulação de bartender, o jogo propõe uma experiência densa e totalmente focada em diálogos e decisões. Mas apesar de uma ambientação bem construída e bons momentos de escrita, a experiência sofre com problemas mecânicos, repetição e uma ausência marcante de localização em português.

História

O jogo se passa em Bukovie, uma cidade fictícia inspirada na Europa entre guerras. Controlamos o bartender de um speakeasy escondido sob uma livraria, que é recrutado por um policial para ajudar em investigações de assassinatos enquanto serve drinks para uma clientela repleta de segredos. Ao longo de cinco casos, os personagens se entrelaçam em histórias pessoais e políticas, abordando temas como desigualdade social, moralidade e trauma. O cenário é carregado por tensões de uma sociedade à beira do colapso, e isso se reflete nos dramas dos clientes.

A narrativa se destaca pela profundidade emocional dos personagens. Muitos evoluem ao longo do jogo, revelando novas camadas ou retornando com feridas abertas que precisam de atenção. Mesmo quando cometem atos condenáveis, continuam humanos, complexos e críveis. A estrutura das investigações conecta bem os capítulos, e há um senso de continuidade que reforça o impacto das escolhas. No entanto, por depender completamente do texto, a ausência de uma tradução para o português limita severamente o acesso ao público brasileiro.

Gameplay

A base da jogabilidade gira em torno de interações com os clientes enquanto você prepara drinks. O minigame de coquetelaria é simples e rápido, focado apenas em traçar um símbolo com o mouse, e serve mais como transição entre diálogos do que um desafio real. A ideia é usar os drinks para alterar o humor, aumentar a confiança ou incentivar os personagens a revelarem informações, mas na prática, a melhor estratégia é quase sempre dar a bebida favorita de cada cliente. Isso faz com que o sistema perca impacto rapidamente.

A parte investigativa acontece no fim de cada dia, quando o jogador revisa pistas, conecta informações e tenta tirar conclusões. É possível apontar suspeitos, confirmar álibis ou descobrir motivos, mas o sistema é limitado. Conexões lógicas nem sempre funcionam como deveriam e, em muitos momentos, o jogo exige ações em ordem específica, mesmo quando a dedução já está clara. Isso pode quebrar a imersão e causar frustração.

Além disso, o jogo permite que pistas sejam descobertas sem contexto, que personagens repitam falas mesmo após eventos importantes, e que o jogador resolva situações apenas tentando todas as opções disponíveis. Isso reduz o impacto das suas escolhas e transforma a dedução em tentativa e erro, algo que não combina com a proposta mais séria do enredo.

Gráficos e Trilha Sonora

Visualmente, Best Served Cold é bem bonito. A direção de arte aposta em uma estética art déco marcante, com personagens expressivos e cenários detalhados. O bar onde tudo acontece é bonito e cheio de estilo, com elementos que reforçam o clima melancólico da história. As cutscenes são bem animadas e contam com dublagem pontual, mas competente.

A trilha sonora é suave e apropriada. Os temas de jazz ajudam a compor o ambiente sem se tornarem repetitivos. Embora não haja tanta variedade, a música cumpre seu papel e contribui para manter a atmosfera constante entre os capítulos.

Conclusão

Best Served Cold é um título com alma. A ambientação é rica, os personagens são bem construídos e a narrativa prende do começo ao fim. O jogo trata de temas densos de forma madura e consegue criar momentos de conexão boa com seus clientes pixelados. No entanto, essa história tão interessante fica presa dentro de sistemas mecânicos simplificados, repetitivos e, às vezes frustrantes.

Para quem busca uma visual novel densa e tem domínio do inglês, a experiência ainda vale a pena, especialmente se o foco estiver na história e não na interatividade. Mas para quem espera um sistema de investigação mais elaborado ou uma gameplay estratégica, talvez esse drink venha mais aguado do que deveria.