
Depois de mais de 100 horas entregando pacotes, enfrentando tempestades, cruzando desertos e roubando os MULAS, concluí finalmente a jornada de Death Stranding 2: On the Beach. Agora que finalizei o game por completo, me sinto pronto para escrever com propriedade sobre essa experiência tão única. Seis anos após o primeiro jogo, Hideo Kojima entrega uma sequência que expande tudo o que foi construído anteriormente com uma a narrativa mais acessível, a jogabilidade mais tranquila e a carga emocional ainda mais pesada. On the Beach não é só uma continuação, é uma evolução e também uma reflexão profunda sobre o que significa se conectar em um mundo fragmentado.
História
Se o primeiro jogo já apresentava um mundo cheio de conceitos complexos, On the Beach consegue ser ainda mais denso sem perder a clareza. A trama começa com Sam vivendo isolado no México, longe das redes de comunicação. Ele agora vive com Lou, que já cresceu um pouco desde os eventos anteriores, e leva uma vida pacata até ser surpreendido por Fragile. Ela chega com um novo plano: expandir a UCA além dos Estados Unidos, que permanece completamente isolada após o Death Stranding. Esse chamado coloca Sam em uma nova missão repleta de perigos, incertezas e novos personagens.

A história é muito boa. Eu poderia escrever parágrafos e parágrafos para tentar convencer você disso, mas basta dizer que ela realmente funciona. É bem escrita, impactante e cheia de momentos memoráveis. No entanto, tenho apenas uma ressalva: apesar de ser o protagonista, acho que o Sam acaba sendo o personagem menos interessante em comparação aos outros. Ele está sempre mais apagado emocionalmente, enquanto o elenco ao redor carrega boa parte da força dramática. Fora isso, o enredo é excelente.
O novo grupo de personagens, a equipe da DHV Magellan, tem personalidades fortes e bem desenvolvidas. Cada um tem motivações próprias e se conecta com Sam de maneira única. Mesmo os vilões são marcantes. O personagem de Elle Fanning rouba a cena em vários momentos, trazendo uma carga psicológica intensa, e o retorno de Higgs é tão insano quanto inesperado. O roteiro combina bem drama, ficção científica e filosofia, e as cenas cinematográficas continuam sendo um espetáculo à parte. Mesmo com alguns diálogos longos demais, o jogo nunca deixa de ser cativante e surpreendente.
Gameplay
O núcleo do gameplay continua sendo as entregas, mas a sensação de repetição do primeiro jogo foi bastante reduzida graças às melhorias nas mecânicas e aos novos cenários australiano e mexicano, que oferecem desafios mais variados. O terreno é mais imprevisível e o clima dinâmico afeta tudo: há enchentes, tempestades de areia que reduzem a visibilidade e até a presença de criaturas hostis muda conforme a região. Isso exige mais atenção na hora de planejar as rotas e definir quais equipamentos levar, principalmente dependendo do local para onde você vai.

Algumas pequenas frustrações do jogo anterior foram resolvidas. Agora é possível visualizar a carga dos caminhões com mais clareza e, ao entrar em um trator, por exemplo, o jogo já posiciona automaticamente os pacotes no veículo. Pode parecer detalhe, mas isso melhora muito a fluidez da experiência.
As novas ferramentas também fazem diferença real no dia a dia das entregas. Há novos tipos de equipamentos para interagir com o ambiente e até um skate motorizado, que torna as travessias por terrenos planos e regiões aquáticas muito mais rápidas e práticas. Outro ponto importante é o retorno da colaboração com outros jogadores, que continua sendo um dos maiores trunfos da série. Encontrar uma ponte, uma escada ou um abrigo deixado por alguém que passou por ali antes ainda gera uma sensação de solidariedade difícil de encontrar em outros jogos.

O combate também foi ajustado. Ainda está longe de ser o foco principal do jogo, mas há mais opções disponíveis, como armas não letais, armadilhas e ataques combinados. Os inimigos humanos agora estão mais organizados e exigem mais cuidado em confrontos diretos. Já os encontros com os BTs foram reformulados e trazem mais tensão e imprevisibilidade. Por outro lado, alguns problemas antigos ainda persistem, como colisões esquisitas e veículos que travam com facilidade em certos tipos de superfície. Não chegam a comprometer a experiência, mas são questões que poderiam ter sido resolvidas nessa sequência.
Gráficos e Trilha Sonora
Visualmente, Death Stranding 2 é impressionante. O mundo australiano é mais colorido, diverso e cheio de biomas únicos. As paisagens, que antes eram marcadas pelo cinza e o isolamento, agora mostram que a vida está tentando se reorganizar. A direção de arte é muito boa e o nível de detalhe em personagens, ambientes e equipamentos reforça a imersão.




A trilha sonora acompanha o tom emocional da jornada. Bandas como Low Roar, Silent Poets e Woodkid retornam com músicas inéditas, e as faixas são inseridas com precisão em momentos de reflexão e descoberta. O uso de silêncio também é bem aplicado, deixando o som dos passos e do vento falarem por si em várias partes do jogo. É uma trilha que sabe quando ser grandiosa e quando sumir completamente para deixar o mundo respirar.
Conclusão
Death Stranding 2: On the Beach é mais do que uma continuação, é a maturação de uma ideia que já era original e corajosa. Kojima não apenas amplia o mundo e os conceitos do primeiro jogo, mas também refina o gameplay e entrega uma história mais direta, emocional e bem construída. A jornada de Sam é intensa e cheia de significado.
Essa é uma experiência que exige paciência, atenção e abertura para o inesperado. Mas para quem aceitar o convite, On the Beach oferece algo raro: um jogo que não tem medo de ser diferente, e que usa cada minuto para construir uma mensagem sincera sobre empatia, isolamento e a necessidade de nos reconectarmos com os outros.
Death Stranding 2: On the Beach
Historia - 9.5
Gameplay - 9
Gráficos - 9.9
Áudio e trilha-sonora - 9.4
9.5
Impecável
Death Stranding 2: On the Beach acerta precisamente ao evoluir tudo que funcionava no original, corrigindo erros e entregando uma história marcante, mecânicas refinadas e momentos inesquecíveis. Mesmo com pequenos tropeços técnicos, é uma sequência ambiciosa e poderosa.