Review: Hell Clock

Hell Clock é um jogo brasileiro que mistura horror psicológico, ação, elementos de RPG e uma estrutura roguelike que reforça a sensação de aprisionamento em um ciclo infernal. Desenvolvido por um estúdio indie nacional, o jogo surpreende com sua ambientação densa, narrativa ousada e mecânicas que se entrelaçam de forma simbólica com os temas que propõe. É feito para incomodar, não apenas com sustos ou criaturas grotescas, mas com ideias pesadas, escolhas morais ambíguas e críticas sociais veladas.

História

A trama se passa no Brasil entre 1890 e 1899, período inicial da República marcado por instabilidade política, desigualdades sociais e eventos como a Guerra de Canudos (1896–1897), que evidenciou a repressão militar e o abismo entre governo e povo.

Nesse pano de fundo real, o jogo insere seu purgatório fictício: o Relógio Infernal, que aprisiona almas com culpas não resolvidas para reviverem seus erros em ciclos temporais sufocantes. O protagonista, sem memória, busca entender sua identidade enquanto interage com figuras que representam pecados, traumas e contradições da época.

Com forte simbolismo, o tempo é ao mesmo tempo, castigo e salvação. A cada morte, o mundo muda levemente, como se o purgatório testasse o jogador. Há referências ao espiritismo kardecista, à cultura barroca, às revoltas populares e à literatura nacional de horror, compondo uma narrativa que provoca reflexão sobre culpa, justiça e redenção.

Gameplay

Hell Clock combina exploração, combate em tempo real e resolução de puzzles, sempre com o tempo como elemento central. O mundo funciona em ciclos temporais que alteram inimigos, eventos e áreas acessíveis, exigindo atenção e estratégia.

O jogo oferece três modos de dificuldade:

  • Modo Tranquilo, com o relógio parado e pausas a qualquer momento
  • Modo Normal, com o relógio em funcionamento, mas com pausa disponível
  • Modo Difícil, com o relógio ativo e sem possibilidade de pausa, aumentando a pressão e a urgência das decisões

Durante os ciclos, a jogabilidade é fluida e responsiva, mas há loadings longos após cada reinício, mesmo em máquinas mais potentes, algo que pode quebrar um pouco o ritmo, embora não comprometa a imersão geral.

O combate é intenso e punitivo, exigindo não apenas gerenciamento de vida, mas também de sanidade, que altera a percepção do mundo e o comportamento dos inimigos. Em certos momentos, evitar confronto é a melhor estratégia.

A morte, típica do roguelike, não é o fim, mas parte do ciclo. Com cada retorno, parte das habilidades é mantida e o mapa sofre pequenas alterações, incentivando o aprendizado e a experimentação.

A progressão acontece por meio de três vertentes:

  • Cognitivas, percepção, resistência mental e resolução de enigmas
  • Físicas, combate, mobilidade e resistência
  • Etéreas, poderes espirituais como desacelerar o tempo ou interagir com entidades ocultas

Não é possível desbloquear tudo em uma única campanha, o que estimula diferentes estilos de jogo e aumenta o fator replay.

Gráficos e áudio

Hell Clock apresenta gráficos competentes, com cenários que exploram bem tons sombrios e macabros para criar uma ambientação pesada e inquietante. A direção de arte aposta em contrastes fortes e ambientes decadentes, reforçando o clima de purgatório. No áudio, o destaque vai para a excelente trilha sonora e para os efeitos que intensificam a tensão dos ciclos e combates. A dublagem em português é muito boa, bem interpretada e localizada com fidelidade à região e ao período histórico em que o jogo se passa, o que dá ainda mais autenticidade à experiência.

Conclusão

Hell Clock é um dos trabalhos mais ousados do cenário indie brasileiro. Sua narrativa contextualizada historicamente, a atmosfera carregada e a mecânica de repetição cíclica entregam uma experiência intensa e provocadora.

Não é um jogo para quem busca respostas fáceis ou ação ininterrupta, mas para quem quer se envolver em uma história sombria, refletir sobre o peso do tempo e enfrentar escolhas moralmente desafiadoras. Sombrio, corajoso e genuinamente brasileiro.

Hell Clock

Historia - 7.8
Gameplay - 8.5
Gráficos - 8
Áudio e trilha-sonora - 7.5

8

Muito Bom

Hell Clock é um roguelike brasileiro que combina narrativa histórica pesada, atmosfera opressora e mecânicas bem amarradas em torno do tempo e da morte. Exige atenção, paciência e reflexão, entregando uma experiência densa e única do início ao fim.

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