
Arknights Endfield representa a maior mudança da franquia desde seu surgimento, abandonando o tower defense clássico para apostar em um RPG de ação em terceira pessoa com exploração, combate em tempo real e um sistema complexo de produção e gerenciamento. Após uma primeira beta que serviu mais como teste de conceitos, a Beta 2 deixa claro que o projeto está em um estágio bem mais avançado, com alto nível de polimento e uma estrutura que já lembra um jogo pronto para lançamento.
Com o encerramento desse teste, já é possível ter uma visão bem mais clara do que Endfield realmente quer ser e também dos pontos que ainda precisam de ajustes antes da versão final.
História
A história de Arknights Endfield apresenta melhorias visíveis na Beta 2, especialmente na forma como é apresentada, com mais cenas animadas, diálogos melhor encadeados e escolhas que, em alguns momentos, influenciam o desenrolar de determinadas situações ao longo da campanha. Ainda assim, o início não causa o impacto esperado e segue uma estrutura bastante familiar dentro do gênero gacha, o que acaba diminuindo o peso das primeiras horas.

O Endministrator é tratado como uma figura central e extremamente importante para o mundo, mas sua atuação inicial é mais passiva do que deveria para um personagem com esse papel. Em vez de conduzir os acontecimentos, ele frequentemente apenas reage ao que acontece ao seu redor, o que enfraquece o peso narrativo de várias situações e reduz a sensação de protagonismo em momentos-chave da história. É possível que, à medida que novas áreas sejam desbloqueadas, a narrativa ganhe mais força e complexidade, mas ainda é cedo para afirmar até onde a história realmente pretende chegar.
Vale também destacar que a versão beta não conta com suporte ao português, entretanto a versão final contará com localização em português, algo muito bem-vindo considerando a grande quantidade de texto presente no jogo.
Gameplay

Arknights Endfield se apoia em três pilares principais, combate em tempo real, exploração e um sistema de fábricas bastante detalhado, que em teoria deveriam funcionar de forma totalmente integrada. Na prática, cada um desses sistemas funciona bem de forma isolada, mas demora demais para existir uma conexão real entre eles, especialmente nas primeiras horas de jogo.
O combate é rápido, fluido e extremamente eficiente. Os personagens causam muito dano, os combos funcionam bem e a inteligência artificial dos aliados ajuda bastante durante as batalhas. O problema é que essa eficiência excessiva reduz drasticamente a necessidade de planejamento. Em boa parte do conteúdo inicial, basta avançar e executar ataques e habilidades para resolver qualquer confronto, sem pensar em terreno, posicionamento ou preparação prévia.

Fábrica e exploração
A fábrica, que deveria ser um dos grandes diferenciais do jogo, acaba tendo um impacto limitado no combate durante boa parte da experiência inicial. Apesar do sistema de produção, automação e gerenciamento ser bem construído, muitos itens e equipamentos podem ser criados rapidamente por meio de menus rápidos, o que reduz a necessidade de um envolvimento mais profundo com a base.
Além disso, o sistema apresenta algumas restrições que podem atrapalhar a progressão, como limites de espaço e de slots de produção. Fazendo com que a fábrica pareça mais engessada do que estratégica em certos momentos. Em vez de incentivar criatividade e experimentação desde o início, o jogo acaba levando o jogador a buscar soluções mais otimizadas na internet.

A exploração também é prejudicada por essa falta de integração entre os sistemas, já que não existem mecânicas naturais de mobilidade como escalada ou planagem. Essa limitação poderia ser compensada por soluções vindas da fábrica ou da construção de estruturas, mas essas ferramentas demoram a se tornar realmente relevantes e, quando finalmente aparecem, costumam ser introduzidas por meio de tutoriais longos e excessivamente guiados.
O modo de defesa é outro ponto que sofre com esse mesmo problema estrutural. A proposta de misturar ação em tempo real com elementos de tower defense faz sentido dentro do universo de Arknights, mas o nível de desafio acaba sendo baixo demais, fazendo com que torres e armadilhas raramente se tornem necessárias. Na maioria das situações, os próprios personagens conseguem lidar com as ondas de inimigos com facilidade, o que reduz o impacto desse modo, mesmo que o jogo ofereça recursos e ferramentas suficientes para torná-lo espetacular, mais desafiador e bem-vindo dentro da experiência.

No geral, a experiência passa a impressão de sistemas que funcionam bem de forma isolada, mas que na prática ainda não se conectam entre si como deveriam. Falta um elo mais forte que incentive o jogador a depender da produção, do transporte de recursos, do posicionamento e da preparação antes dos combates, transformando a fábrica e o modo de defesa em partes realmente essenciais da gameplay, e não apenas em etapas obrigatórias para avançar na progressão.
Gráficos e Áudio
Visualmente, Arknights Endfield apresenta cenários detalhados, bom uso de efeitos de partículas e modelos de personagens muito bem feitos, com animações consistentes e uma física bem aplicada. A ambientação de Talos-II continua funcionando bem, transmitindo de forma clara a sensação de isolamento, perigo constante e decadência tecnológica ao longo da exploração.



A trilha sonora acompanha bem o clima do jogo, reforçando momentos de tensão e exploração sem se tornar repetitiva. A dublagem japonesa também entrega um bom resultado, ajudando a dar mais personalidade aos personagens, enquanto os efeitos sonoros cumprem bem seu papel durante os combates e demais interações.
Desempenho
No quesito desempenho, Arknights Endfield apresenta um resultado bastante sólido na Beta 2 durante os testes no PC. O jogo se mostrou estável ao longo da experiência, mantendo taxas de quadros consistentes mesmo em combates mais intensos e em áreas mais abertas, transmitindo uma sensação clara de boa otimização. Durante as sessões de gameplay, não foram observadas quedas bruscas de desempenho, engasgos frequentes ou problemas de carregamento que comprometessem a experiência.
Gacha
O sistema de gacha de Arknights Endfield chama atenção por algumas decisões que podem gerar frustração, principalmente para quem está começando agora no universo dos gachas. Já para jogadores mais experientes, acostumados com modelos mais rígidos do gênero, o funcionamento pode não soar tão problemático em um primeiro momento, ainda que apresente limitações claras. Para garantir um personagem limitado, é necessário realizar 120 pulls no mesmo banner, e esse progresso não é transferido para banners seguintes. Caso o banner termine antes desse limite ser alcançado, o investimento feito até ali não é preservado.

Esse modelo exige que o jogador tenha exatamente os 120 pulls disponíveis caso queira garantir um personagem específico. Sem a transferência de pity, há pouco espaço para tentativas graduais ou puxadas ocasionais, já que qualquer investimento abaixo desse limite pode acabar sendo perdido ao trocar de banner. Na prática, isso reduz bastante a flexibilidade do sistema e o torna menos convidativo para quem prefere jogar de forma mais casual ou sem um planejamento rígido.

A situação se intensifica devido ao ritmo de obtenção de moeda durante a exploração e a progressão inicial. Mesmo com várias horas de jogo, o acúmulo de recursos acontece de forma lenta, o que dificulta alcançar o número necessário de pulls dentro do período de um banner sem algum tipo de investimento adicional.
O banner de armas segue uma lógica um pouco diferente por não utilizar moeda premium direta, mas mantém uma estrutura semelhante, já que o pity também não é transferido entre banners, repetindo parte das mesmas limitações observadas no banner de personagens.
No estado atual, o sistema de gacha pode se beneficiar de ajustes para oferecer uma experiência mais acessível e menos punitiva. É um ponto que merece bastante atenção, especialmente pensando na retenção de jogadores a longo prazo.
Vale também destacar que uma avaliação totalmente precisa desse sistema só será possível após o lançamento. Durante a beta, não é possível saber se a quantidade de recursos obtida será ajustada, se o custo de cada pull ou o valor de compra será alterado, ou ainda se o jogo permitirá alcançar de forma mais viável os pulls necessários dos banners ao longo das atualizações. Esses fatores podem mudar significativamente o impacto do Gacha na experiência final, fazendo com que essa análise dependa de como o sistema será apresentado na versão completa.
Conclusão
Arknights Endfield chega à Beta 2 como um jogo tecnicamente sólido, bem otimizado e claramente em estágio avançado de desenvolvimento. O combate funciona bem, o visual impressiona e o sistema de fábricas apresenta uma proposta diferente dentro do mercado de gachas, mostrando que a Gryphline busca expandir a identidade da franquia para além do que já era conhecido.
Por outro lado, a narrativa inicial ainda não empolga, o excesso de tutoriais prejudica o ritmo da experiência e os diferentes sistemas do jogo demoram a se integrar de forma natural. Com o lançamento previsto para janeiro, esses pontos ganham ainda mais importância, já que ajustes nesse estágio podem definir se Endfield vai se destacar como algo realmente diferente ou chegar ao mercado apenas como um jogo competente, mas conservador em aspectos onde poderia ousar mais.

